Passar uns tempos fora do país é toda uma
aventura. Mais acrescento, uma experiência pela qual considero que todos os
jovens deviam passar. Infelizmente há um elemento que torna a aventura bem
difícil e em Timor este problema é especialmente grave, tendo em conta a
distância. Afinal de contas, são apenas 18 500 km! As saudades da família
ninguém as tira e são pesadas. Especialmente quando a família está a passar uma
situação difícil. É duro sentirmo-nos altamente impotentes quando só queremos
estar presentes, ajudar e dar miminhos. A preocupação em saber como estão todos
e a vontade apanhar o avião é tamanha! Infelizmente a vida é assim e há coisas
que não se podem mudar!
Acordei ontem de manhã com a notícia de
que a minha avó tinha desmaiado poucas horas antes e já não a conseguiram
reanimar. A internet permitiu-me saber rapidamente da notícia. A diferença horária fez do meu dia um permanente
estado de ansiedade a pensar como estariam o avô, o pai, tios, irmãos e primos. Passei o dia a contar as horas e os minutos para
lhes poder ligar.
Ao que parece, também o meu pai também
estava por estes lados quando morreu o avó Álvaro, meu bisavô. Precisamente nas
semanas da ocupação Indonésia, estava o meu pai no Ataúro, impotente a ver a
coisa a acontecer. Depois de dada a ordem de recuo das tropas (notícia já de si
bem difícil de aceitar, imagino), ainda chega a Darwin e recebe a triste
notícia do avô, por carta! Não me serve de consolo saber isto mas dá-me vontade
de agradecer aos céus, a existência do telefone e da internet. Ao menos assim,
desde que tenha em atenção a diferença horária, a qualquer altura posso falar
com todos e ir acompanhando minimamente a situação.
“A avó já estava muito velhinha, está
melhor assim”, é o que toda gente diz nesta altura em que não se sabe muito bem
o que dizer. Também eu não sei o que dizer, talvez por isso me sinta tão
impotente neste lado do mundo. Para mim é mais fácil estar e fazer do que falar. Há
também uma outra frase que toda gente diz, “foi uma grande mulher e partiu com
uma grande obra feita”. Ora cá está a GRANDE VERDADE! Infelizmente só conheci uma
avó, mas para mim essa avó sempre foi um exemplo a seguir, o de uma
mulher de armas e de um osso bem duro de roer! No pós-25 de Abril, o meu avô
foi saneado. Vendo a família sem sustento, a minha avó não baixou os braços, arregaçou
as mangas e dedicou-se à cozinha para sustentar a família. Algo que os primos
mais velhos ainda se lembram muito bem, por tantas vezes terem acompanhado as
entregas.
Mãe de sete filhos, avó de dezassete netos
e bisavó de dois, com a terceira a caminho! Uma avó com muita fé (não largava os seus santinhos nem por nada), muito mundo,
um sangue frio que não lembra a ninguém e um casamento de meter inveja até ao
casal mais apaixonado.
Não sei em que ano os meus avós casaram
mas lembro-me que na festa das bodas de ouro eu ainda tinha tamanho para andar
a brincar e a desapertar atacadores debaixo das mesas, portanto já foi há uns
anitos! Passados todos estes anos, ainda era bem frequente os netos verem os
avós a namorar, de mão dada e a dar beijinhos.
Não imagino os calduços que o pai e os
tios apanharam quando eram novos mas nós os netos, pelo menos os mais novos, tivemos
a sorte de ter uma avozinha bem amorosa que nos deixava atacar a caixa dos
chocolates e das bolachas e beber um copinho de vinho ao almoço, sem ninguém
ver, está claro. Nos últimos anos a avó já falava pouco mas não deixava de
estar sempre presente e bem atenta ao que se passava à volta, especialmente
para pedir chocolates, bolachas e um bocadinho de vinho sem os “grandes” verem.
Falava pouco, mas a vontade de continuar a comunicar e estar com a avó era
muita e os netos desembrulharam-se em arranjar as suas brincadeiras com a avó. A
Maria cantava e tocava viola, a Inês pintava as unhas e enchia a avó de colares
e pulseiras, a Mariana mana e a avó, cada vez que se viam, toca de deitar
a língua de fora uma à outra. A Matildinha, a Sra. Doutora dos avós tomava conta dos dois, enquanto os restante netos mais novos brincavam, pulavam e gritavam
à volta da avó, que aturava tudo isto com um sorriso e com a maior das atenções e paciência.
As saudades já são mais que muitas mas nós vamos olhando uns pelos outros, como a avó nos ensinou!
gostei muito!beijinho priminha
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