Lost in Translation

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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Os fins de semana nesta Terra!


Todos os fins de semana oiço a seguinte frase: "Viver em Timor é óptimo. Trabalha-se ao dia de semana mas chegamos ao fim de semana e parece mesmo que estamos de férias!"

Para mim não é bem assim e não imaginam as ganas que me dá cada vez que eu oiço isto! Durante a semana tenho o MOVE, ao fim de semana há que trabalhar para a tese. Irrita-me passar tanto tempo dentro de casa com tanta coisa fantástica para fazer lá fora. É mesmo um desperdício de tempo, especialmente se só conseguir ficar seis meses nesta terra! Mas pronto prioridades são prioridades e o que vale é que eu gosto mesmo mesmo do meu tema de tese.

Ainda assim, faço por ter uns tempinhos livres e é mesmo impressionante o que esta terra tem para nos dar! Ontem à noite, jantarinho na Mana Fina, pézinho na areia, música ambiente, uma vista fantástica sobre o mar e a Baía de Díli, velinhas e puffs, uma calmaria que não tem explicação e um jantar de comer e chorar por mais. 

Hoje acordei bem cedo, fui comprar pão fresquinho para o pequeno-almoço e toca de começar a escrever. Ás 16:00 fechei o computador e fui para a praia. Fizemos a travessia do Cristo à praia dos portugueses a nadar e a fazer snorkling. Peixinhos, peixinhos e mais peixinhos, corais de todas as cores e estrelas do mar! 

Regresso da praia de mota. Fazer a marginal toda, vinte minutos a curtir o melhor pôr do sol alguma vez visto! 

Jantar nas espetatinhas. Pés na areia, cervejinha fresquinha e ouvir as novidades de quem chega de férias!

Táss Bem em Timor-Leste, mesmo com investigações para fazer e papers para escrever!

Ps: Para a próxima prometo que já vou equipada com a câmara para debaixo de água! É sempre bom dar um toque visual à coisa.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Vidas!


Há dias melhores e dias piores, semanas melhores e semanas piores!

Ás vezes recebemos notícias que mexem connosco e que nos fazem pensar ou repensar como vivemos, como queremos viver e, no meu caso concreto, o que ando a fazer por estas terras.

Um dos trabalhos que eu faço por aqui é ajudar e acompanhar uma empreendedora a desenvolver o seu negócio. A minha empreendedora chama-se Josefa e tem uma fábrica de pão na sua própria casa. Com a ajuda dos filhos, por volta das dez da noite, todos os dias faz a massa do pão. Depois, deixa a massa fermentar durante umas horas e levanta-se às duas da manhã para fazer cerca de 600 bolinhas de pão. Em Venilale lembro-me de fazer 40 e já estar farta.  600 bolinhas... eu não imagino quantas horas é que a senhora demora a enrolar as bolinhas. Sei que depois ainda tem de as pôr no forno e esperar que 600 bolinhas cozam, antes de voltar para a cama. Também sei que tem de fazer várias fornadas porque o forno não tem capacidade para todo aquele pão de uma só vez. Imaginem tentar fazer tanto pão todas as noites num forno igual ao que todos temos em casa. Imaginem viver disso. É assim que a senhora se sustenta, a si própria e os filhos que ainda moram lá em casa. Eram três... até à semana passada.
A vida aqui em Timor começa cedo e gira muito em torno no próprio bairro. Os cliente da D. Josefa têm as suas bancas a 100 metros de distância da casa da empreendedora. A Susana, rapariga com 21 anos, ajudava a mãe todas as noites. Nesse dia às seis da manhã, como todos os outros, foi vender o pão aos clientes, enquanto a mãe lhe passava a roupa a ferro para ir para as aulas, o último dia de exames para terminar o secundário, pelo que a Sra. me disse.
O irmão mais novo, um rapaz com apenas dez anos assistiu a tudo. A irmã nunca mais voltava, estava-se a atrasar para irem para a escola e ele foi chamá-la. A rapariga estava a falar com um amigo que estava de mota. Não sei qual era a relação entre os dois. Sei que alguns timorenses são emotivos e impulsivos. Talvez por toda a sua História, penso que estão pouco habituados a pensar nas consequências dos seus actos. Alguma coisa chateou o rapaz e resolveu o assunto com uma catana. A Susana morreu.
Durante os dias seguintes fiz algumas visitas à senhora. De todas as vezes tinha a casa cheia. As cerimónias fúnebres timorenses são algo complexas e incluem receber a família toda em casa, dia e noite até ao dia do enterro. As famílias timorenses não são pequenas e nem sempre o enterro é no dia seguinte. Há que esperar que todos possam vir dos distritos e isso pode demorar alguns dias. Durante esse tempo, pouco se dorme e há que alimentar todas aquelas pessoas.
Um dos dias desta semana, a Sra. agarrou-se a mim a chorar a dizer que todo o dinheiro que tinha juntado para pagar as propinas da universidade da filha, teve de gastar no enterro.
     
Há vidas duras... e a vida do comum timorense é extremamente dura. 

É uma das razões porque estou nesta terra! Se eu conseguir contribuir com uma vírgula para que coisas assim não aconteçam...

domingo, 8 de setembro de 2013

Jaco 2nd Round!


O dia passado em Jaco foi qualquer coisa. Jaco é uma ilha sagrada e como tal, ninguém lá pode passar a noite. Aquilo que a malta costuma fazer é ir de véspera, acampar na praia, na margem do lado de cá e, no dia seguinte, apanhar o barco para a ilha e ficar todo o dia de papo para o ar. Foi o que fizemos: acordámos cedinho, atravessámos o canal em barcos dos pescadores e tivemos um óptimo dia de dolce far niente!




Estes pescadores são senhores bem empreendedores que têm ali o negócio todo montado. Para além de fazerem o transporte da malta para Jaco, pescam durante a madrugada, deixam as pessoas escolherem o peixe fresco que querem, combinam uma hora e depois entregam-no já assado na ilha. Íamos com a ideia de comprar dois senhores peixes mas quando lá chegamos já só havia um peixe médio. Paciência, tínhamos latas e bolachas para dar e vender e lá fomos nós felizes na mesma.





Dizem que a malta que se aventura a desbravar o interior da ilha desaparece. Qualquer coisa que faz lembrar a série Lost. Vai na volta, foi em Jaco que os argumentistas se inspiraram. Pelo sim pelo não e respeitando as crenças dos locais, decidimos ficar pela praia e pelo mar, um dos melhores sítios para fazer snorkling no mundo, dizem! Prometo que da próxima vez que lá for já terei uma GoPro! Os rapazes chegaram a ver um tubarão. Eu só vi muitos e muitos peixinhos, corais e estrelas do mar. Os únicos peixes que todos soubemos identificar foi graças ao filme do nemo. Toda gente viu dory’s e o mau, aquele peixe amarelo e preto com uma barbatana comprida em cima. O nome dos outros peixes fica para uma próxima ida e um estudo prévio da fauna de Jaco. Só para não darmos ares de muita ignorância, ahah!

Almoçamos o dito do peixe com as mãozinhas que é o que é bom, umas cervejinhas bem geladinhas que tínhamos levado, vimos peixinhos e búzios andantes (sim, aqui os búzios ainda têm bichinho dentro), passeamos pela praia, dormimos, lemos, etc... Deu tempo para um pouco de tudo mas mesmo assim foi insuficiente. Jaco é mesmo espetacular!






Ao fim do dia, apanhámos o barco de volta para a outra margem. Respirámos fundo e preparamo-nos para subir o tortuoso trajeto até Los Palos. Felizmente tudo correu bem. Tal foi a violência da subida que não consegui tirar uma única fotografia. Cada vez que punha a máquina no olho o jipe saltava. Estranho é não ter ficado com um olho negro. Qualquer vídeo que tivesse feito, o único resultado seria uma grande dor de cabeça para quem tentasse seguir o vídeo.

De caminho para Los Palos e já depois da terrível subida de 8 km, ainda passámos por um casamento tradicional timorense. A cerimónia aconteceu numa casa sagrada, Uma Lulik. Ainda tentámos que nos explicassem cada passo do que estava a acontecer mas ficámos apenas muito confusos. Uns diziam que o casal tinha de dar sete voltas por de baixo da casa, outros dezoito, uns mandaram-nos embora, outros chamaram-nos para assistir e no final até fomos convidados para o copo de água. Com muita pena minha, estávamos todos mais do que a cair de cansaço portanto não fomos a copo de água nenhum. 






Fomos em filinha indiana com os carros do casamento durante uma hora até à pousada e aí jantámos e aterrámos na cama. O banho teve direito a água quente. Tendo em conta que não sabia o que isso era há mais de um mês, soube mesmo bem!
No dia seguinte acordei por volta das oito. Lá fora estava a chover bem. É das coisas que me lembro de Venilale de saber mesmo bem. A maioria das casas aqui em Timor e especialmente nas montanhas, são super arejadas, com várias janelas grandes que estão sempre abertas. Ficar debaixo do telheiro a tomar o pequeno almoço e a ver e ouvir a chuva intensa lá fora é mesmo bom.
            A seguir toca de arrancar novamente para Baucau onde almoçamos um grande bife com tatas na pousada. Quem diria que ao sair da capital teríamos acesso a alguns pequenitos luxuzitos que estamos privados aqui na cidade. Comi mais bitoques durante este fim de semana do que comi num mês que cá estou. Gosto muito de arrozinho, peixe e vegetais mas gosto ainda mais de um bom bife e aqui em Díli é sempre um problema para comprar carne. O clima também é bem melhor nos distritos e em Los Palos, até tivemos direito a banhinho de água quente. Coisa que não existe na casa MOVE!
            Enfim, foi um fim de semana cansativo mas que valeu mesmo a pena. O céu e as estrelas, o snorkling, a praia, a calma, o peixinho assado, o casamento timorense, etc... Foi mesmo bom! Pena passar tantas horas dentro do carro sem poder sair e conhecer um pouco mais! Continua a fazer falta uma experiência mais intensa da essência de Timor. Embora o nosso trabalho nos ponha em contacto diário com vários timorenses, Díli não é Timor. Há todo um mundo para conhecer nos distritos!



quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Ilha de Jaco


No fim de semana passado, aproveitamos o fim-de-semana grande e fomos a Jaco, uma ilha sagrada (e paradisíaca) na ponta leste.

Toda uma odisseia!

Saímos de Díli de manhã cedo, rumo a Baucau onde parámos para esticar as pernas e beber qualquer coisa. As estradas em Timor são um assunto complexo: são más e demasiado estreitas e as chuvas ainda dão cabo de todas as manutenções que se possa pensar em fazer. Se queremos ir a algum lado, nunca se pergunta quantos km são, pergunta-se quantas horas se demora a chegar. Num país que é mais pequeno que o Alentejo, atravessá-lo de uma lado ao outro pode demorar quase um dia.





De Baucau, os planos eram ainda ir fazer um pouco de praia à costa sul. Planos furados já que tivemos alguns contratempos. Um dos jipes com a direção mal alinhada e vai um furo. 

Para-se e muda-se o pneu em chão de terra batida. O macaco escorrega. Dois macacos e muita gente a rezar para que o macaco não fuga enquanto se muda o pneu. Com um eixo partido, é que não seguiríamos viagem de certeza. 





Ao segundo furo, já temos alguma prática e a coisa já se fez mais rápido. Sem pneu subselente tivemos de improvisar e pôr o pneu de um outro jipe. 



Tudo certo até que começa a cheirar demasiado a borracha queimada. O pneu era demasiado grande para a caixa. Toca de trocar o pneu de trás com o da frente e ver se encaixa. Felizmente resultou mas com isto foi preciso mudar de pneus 3 três vezes. 






Chegámos a Los Palos com uma fome desgraçada. Á nossa espera tínhamos uns bitoques óptimos. Sim, estamos em Timor mas de vez em quando temos estas pequenas surpresas!

De Los Palos seguimos então para a praia que fica em frente a Jaco e onde acampamos. Uma descida de 8 km que demorámos duas horas a fazer. Depois de um atascanso e uma avaria no guincho, lá conseguimos chegar finalmente à praia. 



Chegámos já era de noite mas ainda tivemos forças para montar tendas, acender uma fogueira na praia e preparar o jantar. Depois, foi ficar a olhar para as estrelas até cair para o lado, literalmente. Ouve uns tantos que adormeceram ali mesmo. Sem dúvida alguma, o céu timorense é o mais bonito que eu já alguma vi. A única vez que vi um céu tão bonito como o de sexta-feira foi em Venilale, há três anos atrás.


Com este céu, óbvio que eu só podia dormir ao relento. Estendi o meu saco de cama ali perto da fogueira e atrás de mim ficou o Bruno (também MOVE). Um pouco mais ao lado, por debaixo das árvores ficaram mais dois rapazes. A meio da noite acordei com uns berros, olhei para trás não vi o Bruno, achei que ele tinha ido para dentro da tenda. Olhei para o sítio onde estavam os outros dois rapazes e vi alguém a aterrar mesmo ao lado do sítio onde eu tinha deixado a mochila. Apanhei um susto porque achei que seria alguém com os copos a roubar-me as coisas. Já estava super chateada a pensar que no dia seguinte iria para Jaco de pijama, mas afinal foi só o Bruno que tinha ido à casa de banho. Os berros não percebi donde vieram.


Acordei com um nascer do sol espetacular e às sete e meia da manhã já estava na água. Lá ao longe uns golfinhos a passar. Tomámos o pequeno almoço e toca de ir para Jaco.




 O resto da aventura fica para amanhã...