Lost in Translation

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terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Díli, 13 de Dezembro de 2013, Diak Mana, sempre diak!!

São três da manhã.. Não consigo dormir! Vou amanhã para casa... Ou melhor, vou a casa! Não sei o que vou encontrar. Estou nervosa. Saí há quase cinco meses. Tanta coisa aconteceu nos entretantos. Nasceu uma sobrinha, morreu uma avó, dois primos casaram, o avô com mais de 90 anos esteve em coma, recuperou. Ao contrário do que todos poderíamos esperar, estava pronto para ir voltar para casa acordadinho da silva e agora está novamente mal, com uma infecção respiratória. A bagunça morreu.
Quanto a mim.. em cinco meses também se passou muita coisa. Muitas vivências, emoções, sentimentos, questões levantadas (umas respondidas outras nem por isso), aprendizagens e importantes decisões ocorreram ao longo destes meses.
Hoje encerrou-se um capitulo cá em casa. Tivemos o último jantar com toda a equipa, a 5ª Edição Católica-MOVE. Fomos jantar ao italiano e o João perguntava-me qual tinha sido a experiência mais forte que eu vivi aqui. Respondi que não havia nenhuma mais forte que todas as outras. Estes meses têm sido todo um conjunto de experiências fortíssimas. É tanta coisa que nem sei por onde começar.. a casa onde vivo, as pessoas que vivem à nossa volta e a forma simples como vivem, todos os bons dias e os mega sorrisos timorenses, as crianças a virem bater à nossa porta para brincar (todas e cada uma delas), os filmes da Disney cá em casa à quarta-feira (Obrigada Tiago); os porcos, as galinhas, a cabra e os cãezinhos a ganirem toda a noite, a atribuição dos primeiros microcréditos do MOVE e o acompanhamento dos nossos empreendedores, a D. Josefa, a Susana e o Santiago e as tentativas de explicações, os miúdos a brincarem com papagaios feitos de paus e sacos de plástico, o andar de bicicleta para todo o lado, a mota nova, as idas a pé ao mercado atrás de casa, a falta que o mercado atrás de casa me faz porque foi mandado a baixo, as sucessivas idas ao supermercado porque há sempre produtos que faltam (desvantagens de viver num país que ainda tem pouca capacidade de produção e que por isso tem de importar quase tudo e de e estarmos habituados a pequenos miminhos que não queremos dispensar, a manteiga é um caso crítico!!), o dia a dia em equipa, o ter de cozinhar para uma família de cinco pessoas (em Timor cozinhar é todo um desafio e a criatividade não foi muita, obrigada malta porque nunca se queixaram!), as asneiradas dos rapazes e até um jogo SPC-Benfica às seis da manhã, todas as gargalhadas em família, as panquecas do João e as conversas pela noite fora com a Sara, as aulas na UNTL, as longas conversas com os jovens da UNTL, as idas às escolas e às Universidades, as várias reuniões ou conversas (muitas, com as mais variadas pessoas e sobre os mais variados assuntos), os encontros (ainda que muito breves) com P. Elias, P. Manuel e com a Célcia, a procissão de 13 de Outubro e o 12 de Novembro, as várias cerimónias protocolares e a forma intensa com que os timorenses recordam e vivem a história que identificam como sua. Os vários passeios: o ida ao dólar de mota, a ida a Jaco e o dormir sob as estrelas, a subida ao Ramelau e ver aquele nascer do Sol, a ida a Ataúro e o passeio pelas duas Vilas, as filmagens com o Victor, as tardes em casa do David a editar, os almoços nos vários warguns, o ter de ser guiada na mota, a ida a Maubara para assistir a um concerto do Maestro Simão Barreto (música clássica), os concertos na Arte Moris e no Palácio do governo, o lançamento do livro do Takas, a inauguração do Arquivo digital no Museu da Resistência, a ida ao Arquivo Nacional (sim, ao contrário do que todos os historiadores e interessados em Timor com quem eu falei pensam, existe), as cartadas depois do jantar, idas às praias mais bonitas onde eu já alguma vez tive, a travessia do Cristo aos portugueses a nado, os vários snorklings e as brincadeiras com as máquinas fotográficas, os jantares nas espetadinhas, na churrascaria e na Mana Fina e até as noites animadas no Tower e no La Esquina. Cada uma destas pessoas ou destas pequenas experiências encerram em si próprias um valor e foram vividas com uma tal intensidade que é impossível pôr em palavras. Mas, acima de tudo quem mais me ensinou ao longo destes meses foram os próprios timorenses: "Diak Mana, sempre diak"!! Independentemente do que muitos possam dizer, temos muito a aprender com eles.  Reflexões complexas mas muito importantes que ficam para outro dia!
Respondendo à pergunta do João, não há um episódio ou outro que me tenha marcado mais. Foram todos. Cada um à sua maneira. Mas do conjunto, regresso a casa com o coração cheio cheio CHEIO!!

Eu vou a casa mas volto. O João já não volta. Fechou-se mais um capítulo. Vou a casa ganhar forças para o próximo! Um mesinho em casa e recarregar baterias. Tenho saudades. Muitas. Parece que sou menos desprendida do que achei que seria. Depois volto a Timor e com muito pouca vontade de utilizar o bilhete já comprado de regresso novamente a casa em Fevereiro. Timor é uma terra mesmo especial, cheia de vontade de crescer e eu cheia de vontade de crescer com ela também!